Os traços da nossa história
Houve um período no processo de evolução da espécie humana em que, organizada minimamente nossa inteligência, o instinto puro foi deixando de ser o guia único de nossas ações.
Nossos mais primitivos ancestrais passaram a se perceber seres sociais quando perceberam que as atividades daquele cotidiano tão hostil seriam mais fáceis se compartilhadas com seus semelhantes, na busca pelo objetivo comum. Sobreviver.
Aos poucos, fomos nos organizando para a construção de pequenos grupos sociais. Ainda somos assim até os dias atuais. As nossas tarefas e nossas dificuldades mudaram muito, mas existe algo que segue firme em nós. Nossa necessidade de comunicação.
Registrar nossas experiências e entregá-las ao futuro pode garantir não apenas o sinal de nossa passagem, mas garante a construção histórica da sociedade, contribuindo para a evolução de nossas gerações futuras.
As primeiras escritas
A arqueologia e suas buscas já localizaram pinturas rupestres que datam de aproximadamente 40 mil anos atrás, gravadas nas paredes de cavernas espalhadas por todo o mundo. Logo após a comunicação oral, as formas gráficas foram o próximo passo na comunicação, com seus símbolos e desenhos.
Mas uma forma de escrita organizada e sistematizada surgiu apenas por volta de 3.500a.C entre os povos Sumérios. Eles desenvolveram uma espécie de escrita cuneiforme destinada aos registros de suas atividades econômicas, políticas e do cotidiano.
Neste mesmo período, no antigo Egito, eram produzidos também os “Hierógllifos”, uma espécie de escrita sagrada dominada exclusivamente por quem detinha poder, como sacerdotes, membros da realeza e escribas.
Os suportes naqueles tempos eram a argila (barro), paredes e pedras e o alfabeto contava com aproximadamente 6900 sinais. Tanto a dificuldade na gravação em virtude dos suportes, quanto à grande dificuldade em identificar este número enorme de símbolos levou ao desaparecimento deste modelo, para a construção e adoção de outros mais simplificados.
Ler e escrever para que?
O que era anteriormente apenas uma forma de comunicar, com o passar do tempo foi se incorporando nas sociedades como uma forma de aquisição de conhecimento e crescimento pessoal.
Aos poucos, a leitura e a escrita foram se disseminando entre as “pessoas comuns”, deixando de ser uma ferramenta destinada exclusivamente aos poderosos e passando a ser um conhecimento disponível ao coletivo.
Na mesma proporção em que a capacidade de leitura e escrita crescia numericamente entre as pessoas, cresciam também os registros de suas experiências e o volume das comunicações entre elas.
Nós educadores, que reconhecemos a importância dos registros, sabemos o quão enriquecedores podem ser um ambiente ou uma sociedade que se dedica a gravar na história suas vivências cotidianas.
Pois para que isso seja possível, a leitura e a escrita devem ser instaladas de forma a que nossa capacidade humana de exercício intelectual seja grafada, interpretada e compreendida como um todo. A mera reprodução escrita daquilo que se ouve precisa repousar em nosso passado.
À medida que a inteligência vai se incorporando em nossa escrita, possibilitando o exercício intelectual e cognitivo do leitor, nossa comunicação vai deixando de ser apenas uma entrega isolada de dados, para assumir o importante papel de troca de experiências e crescimento mútuo.
As primeiras escolas
No início, o conhecimento era passado de pai para filho, passando posteriormente pela figura do “preceptor”, uma espécie de professor particular (como o que Aristóteles foi para Alexandre, o Grande), até o modelo mais próximo da escola atual nascida no século XII, na Europa, onde se acredita tenha nascido a alfabetização propriamente dita.
Crianças sentadas em carteiras enfileiradas aprendiam a leitura e a escrita (vale dizer, apenas para reflexão, que ainda hoje temos escolas neste formato do século XII) por intermédio das obras de instituições de caridade católicas.
A necessária alfabetização, em qualquer período histórico, sempre teve importância fundamental na construção de escritores e leitores e ainda hoje guarda seu papel na estrutura da relação ensino/aprendizagem.
Decifrar um código alfabético de forma a compreender seu significado e sua mensagem aproxima os seres humanos de sua condição de liberdade e o faz dono de suas decisões e de suas vontades, entregando a si o leme de sua própria história, mas a alfabetização é muito mais que do que isso.
Alfabetização nos dias atuais
Durante toda a história da educação, a alfabetização sempre ocupou um lugar de destaque a partir sua importância, mesmo que as discussões sobre seus métodos sejam algo relativamente novo.
Muito possivelmente, com a introdução e ampla utilização dos equipamentos tecnológicos em nossa sociedade, especialmente pelas crianças em fase de alfabetização, novas formas de alfabetizar devem surgir e precisamos estar atentos a elas.
Entretanto, é preciso ter em mente e conhecermos todas as formas possíveis e já conhecidas dos processos presentes porque, seja qual for o modelo, não se pode desconectar sua importância como processo de construção pessoal, social e histórica.
Seguiremos tratando deste assunto nos próximos artigos, pondo em prática a alfabetização de cada um de nós. A escrita e a leitura, a interpretação e a compreensão individual em favor da educação de todos.
Vamos juntos?