Aos seres vivos a experimentação é algo rudimentar. Ao longo da história das espécies, todo movimento de evolução passa, necessária e quase exclusivamente, pelo atrevimento da experiência. Desde as primitivas necessidades alimentares, a inovar e ampliar seus cardápios, até ousadias mais complexas das misturas químicas a produzir medicamentos. A simplicidade encontrada hoje no voar, no iluminar, no escrever, são fruto da experimentação da espécie humana, que para além de simplesmente se arriscar no novo, foi capaz de registrar seus experimentos, compilar, compreender e evoluir a partir deles.
O experimento nasce do desejo pelo novo, da intenção de ampliar os saberes a partir de situações e elementos ainda desconhecidos. Para tanto, é imperioso entregar-se em corpo e tempo, para que a sensação produzida pelo inédito seja de tal forma impactante, que lhe atravesse a alma. Assim é que a experiência nos constrói alicerces tanto para que desejemos sempre mais, como para que inspiremos, ofertemos e convidemos os que nos rodeiam.
Essa entrega do corpo não pode ser superficial. As sensações obtidas nas experiências não são passíveis de descrição tão fiel que se possa explicar ao outro. Elas são absolutamente pessoais e intransferíveis porque estão intrinsecamente ligadas umas às outas e cada indivíduo reage sensorialmente de forma inédita a cada nova vivência, sempre a partir de suas vivências e experiências anteriores. É como o construir de uma teia. Corpo e mente devem caminhar absolutamente unidos para que a tradução do que vive a mão seja reconhecida, identificada e registrada pelo cérebro emocional. Assim afirmou John Dewey:
“Reflexão e ação devem estar ligadas, são parte de um todo, indivisível… “
Desta forma, é preciso que o despertar da intenção mova o corpo. Seguir fisicamente para dentro da experiência, levando conosco tudo aquilo que nos compõe. Entregar suas mãos, suas vestes, seu tempo, seu olhar e sua história de vida é que dará sentido a esse momento.
Neste ponto é que a provocação chega ao seu ápice. Quando absolutamente imerso na experiência, com todos os seus sentidos em aguçamento, é possível desencadear um grupo de informações e sensações que serão interpretadas pelo indivíduo como: “o inédito”.
Para a criança, que habita um corpo ávido pelo novo, a oferta de experiências chega a ser uma obrigação do adulto, em especial os educadores, de quem se espera conhecimento e preparo. E para isso, o corpo desse educador adulto há de estar aberto e entregue aos campos de experiência. Conhecer e reconhecer as sensações que lhe são provocadas nas mais diversas ações, para de forma mais precisa e competente reconhecer, identificar e registrar aquelas provocadas nas crianças.
Quanto mais experimentada a criança, mais capaz de se integrar com o mundo e com os outros seres, e de administrar seus sentimentos e fazer bom uso deles ao longo de sua vida, e feliz do adulto que se permite experimentar aquilo que ainda lhe é inédito, porque a longevidade verdadeira está na aventura ao desconhecido, no sabor do novo a qualquer tempo, para inundar de quereres o amanhã.