JE NE FAY RIEN SANS GAYETÉ
Quando retornei da minha aventura pedagógica a Reggio Emilia, na Itália, em maio de 2018, a frase “NADA SEM ALEGRIA” já fazia parte de mim. Ela fazia sentido não só pela enorme alegria que sentia em estar ali, realizando o sonho de conhecer o lugar que reverbera a melhor Educação Infantil do mundo, como também por entender que educação só pode existir onde houver alegria! Curiosa como sou, lá mesmo, fiz uma breve pesquisa na internet e listei algumas tarefas de casa para o retorno ao Brasil.
Apesar da frase ser atribuída a Loris Malaguzzi, pedagogo, educador e um sonhador nato, que tornou-se referência da abordagem educativa de Reggio, minha primeira tarefa foi googlar o nome de Michel de Montaigne, escritor e filósofo francês, que aparecia em todas as minhas rápidas pesquisas. E essa foi a minha primeira tarefa de casa.
Descobri que Montaigne foi considerado um dos maiores humanistas franceses e, também, o inventor do gênero ensaio. Nasceu no castelo de Montaigne, Saint-Michel-de-Montaigne, na região de Bordeaux, França, em 1533.
Visto como um revolucionário, Montaigne acreditava em uma educação com o foco na experiência e na investigação (Tão John Dewey! Amei!). Criticava a prática da memorização e o uso dos livros, que, segundo ele, afastava o aluno do conhecimento. Considerava fundamental o pensamento crítico (Tão Paulo Freire!! Amei mais ainda!).
Montaigne dizia ainda que:
“Cuidamos apenas de encher a memória e deixamos vazios o entendimento e a consciência.”
Passei meses imaginando como essa máxima de Montaigne chegou até Malaguzzi. Que sentido fez para ele? Que sentido fez e faz, até hoje, para educação em Reggio? Até o dia em que encontrei no livro “Reggio Emilia e Ponte”, de Eloisa Ponzio e José Pacheco, um recorte da obra de Alfredo Hoyuelos que dizia assim:
Na entrada da escola Diana de Reggio Emilia (premiada internacionalmente em 1991 pela revista Newsweek como a melhor do mundo em Educação Infantil) podemos ver um grande cartaz que é um convite provocador do centro educativo: <Nada sem alegria>. Esta máxima ética e estética de Michael de Montaigne é, ao mesmo tempo, a entrada e a saída da própria escola, um lugar que declara que, sem alegria, não se pode não só educar ou formar, senão que não vale a pena viver.
A segunda tarefa foi pesquisar sobre a biblioteca de Guita e de José Mindlin, pois ao digitar na internet “Michel de Montaigne”, logo aparecia a foto do casal Mindlin. Li um pouco sobre eles e sobre a declarada paixão pelos livros, sobre ex-libris e sobre a Biblioteca Brasiliana, localizada na USP.
A frase “Não faço nada sem alegria” estava no ex-libris (selo pessoal) que o empresário e intelectual José Mindlin colocou em sua megacoleção de livros raros. Segundo a sua bibliografia, nada poderia representá-lo melhor, pois fazia tudo com entusiasmo e com ALEGRIA.
A Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin foi criada em janeiro de 2005. A coleção de, aproximadamente, 30 mil títulos foi doada pela família Mindlin à USP como um gesto de generosidade.
“O vírus do amor ao livro é incurável, e eu procuro inocular esse vírus no maior número possível de pessoas.”
José Mindlin
Depois de conhecer um pouco mais sobre Montaigne e Mindlin, a frase NADA SEM ALEGRIA começou a fazer muito mais sentido para mim. Resolvi tatuá-la em meu braço. Também fiz o meu ex-libris em forma de carimbo e, embora bem singela, minha biblioteca carrega a minha marca.
Sigo por aí compartilhando saberes e buscando inspirações que façam sentido e que transbordem ALEGRIA!
Nossas crianças merecem!
Rosa Cavalcante é educadora com 25 anos de experiência. Formada em Pedagogia, também é especialista em Psicopedagogia, Gestão de Pessoas (FGV) e Gestão Curricular. Coordena a Educação Infantil de uma instituição particular em Brasília. Esteve junto com a Diálogos em viagens pedagógicas à Argentina, ao Peru, à Itália e à Finlândia. No momento, está só esperando a próxima!
Site: rosacavalcante.com.br
Instagram: rosarosinhacavalcante