Por Teca Antunes*
Nasci educadora por me sentir afetada por crianças e jovens com deficiência. Em sala de aula, muitos encontros me fizeram seguir buscando compreender a forma como os processos de aprendizagem aconteciam, e como eu poderia afetá-los.Como parte dessa busca, voltei, em 2005, à Faculdade de Educação da USP para dar continuidade à minha formação relacionada à Educação Especial – o que reafirmou minha escolha profissional e fortaleceu minha investigação didática.
Outro tema que sempre me afetou enquanto professora foi a aprendizagem da leitura e da escrita – a forma como o pensamento infantil constitui-se até que a criança / aluno(a)
compreende como o sistema de escrita se organiza e, por meio dele, passa a acessar um
universo mais amplo de textos, sentidos e significados. E a forma como essa exploração nunca se esgota.
Em função do meu percurso profissional, afastei-me, de certa forma, desses dois temas que me conduziram à Educação e que me fizeram ter certeza do caminho escolhido. Mas senti vontade de voltar, de retomar, de me certificar – das minhas crenças e daquilo que construí até hoje. Voltei, novamente, à Faculdade de Educação da USP para me aproximar da concretização de um projeto (do qual nunca desisti) e direcionei meus olhos a algumas
situações de formação que me levariam a pensar, novamente, em temáticas relevantes para mim.
E ontem, em um curso sobre “dificuldades de aprendizagem”, tive a honra de conhecer
pessoalmente a professora Rosita Edler de Carvalho, cujos livros eu havia lido ao longo do
programa de Mestrado. Essa professora, com mais de 60 anos de trabalho na Educação,
afetou-me profundamente quando, em meio a seus relatos, mostrou-se emocionada com
situações que viveu com alunos (sim, e ela lembra dos nomes!), mostrou-se perplexa quanto a formas desrespeitosas de se lidar com alunos com deficiência e colocou-se politicamente envolvida na discussão da educação de alunos(as) com dificuldades DE e NA aprendizagem.
Rosita (como nos disse gostar de ser chamada) nos ensinou muito ontem, sem dúvida; mas nos afetou muito mais pelo exemplo, pela forma como nunca deixou de acreditar que absolutamente todos os alunos podem aprender e por nunca ter deixado de se afetar – pelas questões educacionais, do ensino e da aprendizagem.
Que sempre possamos nos deixar afetar por cada um dos(as) alunos(as) com quem
convivemos; que possamos lembrar de seus nomes; e que também possamos saber o que nos afeta mais profundamente – aquilo que, quando investigamos, faz nossos olhos brilhar e parece significar todo o percurso.
A tarefa nunca é simples, exige muita investigação, muito estudo; mas nos enche de sentido e de certeza de que por meio da Educação damos a nossa contribuição por um mundo mais justo e menos desigual.
Professora Rosita, muito obrigada por me afetar e me fazer resgatar crenças e certezas.
* Teca Antunes é Pedagoga e Mestre em Educação Especial pela FEUSP, e especialista em Educação Bilíngue pelo Instituto Singularidades. Atua na formação de professores há mais de 15 anos especialmente com temas ligados a Educação Infantil, Alfabetização e Inclusão Escolar. Atua como Coordenadora Geral da Aubrick Escola Bilíngue Multicultural.