Em tempos de Covid, recolhimento social e permanência em casa que sinto um prazer enorme em preparar bolos. Dos mais simples, aqueles mesmos de caixinha e sem nenhum fru-fru até os mais rebuscados com generosas camadas de recheio e cobertura. Bolo no centro da mesa rodeado de crianças e adultos para desgustá-lo. Bolo como cúmplice de brincadeiras e conversas.
Sempre pensei no bolo como agregador de pessoas. Ele é personagem que acompanha desde um bate-papo informal entre as amigas até o fechamento de contratos.
Retomar a memória e buscar os bolos que nos acompanharam ao longo da vida é um delicioso exercício. Bora tentar?
Tenho em mim a imagem de um bolo quadrado (com muito, muito glacê branco como à época pedia) em uma festa de 3 anos. Branca de neve e os 7 anões se esforçavam para não escorregarem da cobertura e, assim, aguardarem o momento de cantar parabéns.
Lembro-me também de meu bolo de 15 anos. Coisa fina, um glacê (sim, ele novamente!) meio rosado. Escolhi um bolo “cheio das 9 horas” em uma revista. Algo mais simbólico para marcar essa data tão especial. Especial mesmo foi o bolo, porque a festa não teve nada de glamour… meia dúzia de adolescentes em volta de um bolo com dois andares em um apartamento no Tatuapé. Nada de valsa, cadetes ou brilhos. Mas o bolo, esse sim marcou presença. Rolou pela casa por mais de uma semana. Café da manhã com bolo. Sobremesa do almoço? Bolo. Jantar? Bolo. E se batesse uma fome de madrugada, lá estava ele…
O bolo tronco tradicional na família Vitiello marcava presença em todos os Natais. Receita escrita em um caderno antigo. Daquelas receitas que passam de mãos em mãos.
Lá estava ele, meio recortado, meio colado. Havia dias em que a tia estava mais inspirada e fazia os galhos da melhor forma possível, já em outros… A cobertura era uma espécie de mingau de chocolate. Zero glamour. A quantidade de recheio dependia do quanto tínhamos de e amido de milho em casa. De verdade, difícil de engolir. Definitivamente não era o meu preferido, mas a lembrança do preparo aquece o coração.
Agora o bolo em comemoração ao terceiro aniversário do meu irmão Marcos esse deixou lembrança. Bonequinhos plásticos com roupas típicas de festa junina se esforçavam para manter o equilíbrio entre a pasta de glacê verde que se estendia sobre o alimento. Bandeirinhas de papel de seda foram confeccionadas por mim e coladas, caprichosamente, em palitos de churrasco (é gente, fato é que a criatividade se fazia presente e se ampliava considerando as condições do momento. Imaginam isso?). Na hora de cortar os pedaços a algazarra foi geral…era um tal de criança querendo o boneco de roupa xadrez vermelha e preta, a outra queria a boneca de vestido verde…
Ah, os bolos nos compõem.
Ultimamente o bolo que faz morada em mim é o de leite em pó. Um mini bolo que foi parceiro no aniversário de 8 anos do Pedro. Bolo que degustamos entre lágrimas de gratidão e desejos de um ano novo cheio de vida.
Bolo: 4 letras que simbolizam presença, sustentam narrativas e marcam histórias.
Conte-nos sobre a sua relação com esse alimento tão característico das mesas brasileiras.