Um mundo de possibilidades

É possível que quando Charles Miller visualizou a possibilidade de introduzir no Brasil este esporte nascido na Inglaterra, não tenha imaginado a proporção que seu sonho alcançaria. Quando desembarcou aqui em 1894 com sua mochila cheia de badulaques que remetiam ao esporte, possivelmente só imaginou estar portando uma simples novidade.

Bom, estamos aqui quase 130 anos depois vivendo as emoções de mais uma Copa do Mundo, já tendo vencido em 5 outras oportunidades. Não bastasse, somos sempre considerados adversário difícil de ser batido. 

Fomos capazes de construir uma lista infindável de craques desde Didi, passando por Nilton Santos, Rivellino, Gerson, Zico, Sócrates, Romário, Kaká, Ronaldinho Gaúcho, Ronaldo e Neymar. Olha que nem falamos em Pelé, o rei.

Fato é o esporte se tornou nossa paixão nacional e uma espécie de “esbarrão inusitado” promoveu uma relação de amor, de tal forma que houve um casamento entre a ginga característica de nosso povo e os dribles que encantam e inebriam o mundo. Somos todos um pouco futebol.  

O gol, um momento a ser lembrado

O gol é sempre uma explosão de alegria. Ele consiste no objetivo principal dos jogadores: fazer com que a bola atravesse as três traves, e de preferência, balance as redes. Eles estão registrados nos anais do futebol e podem ser consultados por quem desejar fazê-lo.

Mas a lembrança que desejamos evocar é outra. Aquela que reside em nossa lembrança no momento de reunir para assistirmos juntos aos jogos: os debates sobre as escalações, as melhores táticas, a expectativa da vitória e ele: “O GOOOOOL”…

Gritos e pulos de alegria pela casa, crianças e adultos em uma só voz, a alegria que toma conta do lugar. Hoje em nossas lembranças mais remotas quem sabe não estejam mais os nomes dos jogadores e dos adversários, nem o placar final e eventualmente nem nos lembremos de se fomos ou não campeões. Mas nos lembramos dos momentos de confraternização.

O mesmo gol de uma partida específica deixou marcas diferentes em cada um de nós. Cada um tomou para si aquele gol como seu, e o guardou em suas lembranças por um motivo igualmente exclusivo. Um gol, milhões de memórias.   

As crianças e o futebol. Fazer o que?

Não dá pra escapar. Nossos bebês recém-nascidos já ostentam as camisas dos times de futebol. Estes uniformes também já se transformaram ao longo do tempo e a tecnologia chegou a seus tecidos, melhorando e evoluindo junto com o esporte.

Se nossas crianças vivenciam as emoções deste esporte, porque não fazemos uso disso para a construção de saberes? Não se trata apenas de incluí-lo na programação de Educação Física, mas ampliá-lo para outras vivências.

Como todo esporte, a oportunidade de conviver com a vitória e com a derrota, o respeito pelo adversário, a importância do trabalho construído de forma coletiva (seja jogando, seja torcendo). Tudo envolto num pacote muito aprazível: nosso esporte favorito.

Nomes dos grandes ídolos, o vocabulário próprio (que eventualmente pode permitir uma transgressão), o resgate da memória do esporte. Quem sabe visitar os monumentos ou os museus específicos. Há muito a se aprender com tudo.

Futebol na escola. Não é só um jogo

A escola é lugar de aprendizagens, de convívio, de docência, de escuta, de fala e de memória. A escola não precisa ser lembrada apenas pelo que lá aprendemos, mas ela pode e deve ser lembrada pelo que lá vivemos.

Quanto se pode registrar nas memórias das crianças a formação de seu primeiro time e seu primeiro uniforme? Sua primeira partida, sua primeira vitória? E aos escolhidos, o primeiro gol?

Ora, se os inéditos não são os maiores marcadores de nossas vidas, o que haverá de ser? Vamos lá…. Abramos nossos olhos para esta jogada porque não estamos impedidos. Um chute certeiro pode determinar se estaremos ou não na história.

Sabemos, somos professores e não estaremos mesmo na história do futebol. Mas podemos marcar nossas presenças nos gols a serem comemorados, nos momentos de alegria a serem compartilhados, nas boas lembranças das sensações do “estar junto”.

Se lá no futuro alguma criança que acompanhamos vai se tornar um grande craque, não podemos garantir. Mas estamos certos de que, tendo participado de momentos felizes com eles e as magias do futebol, teremos marcado um gol em suas vidas.

Só não vale deixar pros 45 do segundo tempo. A bola está com vocês…