A POÉTICA DA CASA: O LUGAR DA CURIOSIDADE NA DOCUMENTAÇÃO PEDAGÓGICA – COM ANDRÉ CARRIERI
Durante os meses de julho a setembro educadoras participaram de um ateliê fotográfico e exercitaram seu olhar a partir de suas casas, vivendo um processo de autoconhecimento e conhecimento neste período de pandemia.
Estratégia sobre quatro exercícios
O ateliê aconteceu em fases de criação, no modo contínuo de ação e reflexão sobre a ação. Quatro exercícios práticos foram executados para que cada participante experimentasse a fotografia e se reconhecesse como autora, como professora/fotógrafa.
Os exercícios tinham como propósito desenvolver a técnica e a linguagem da fotografia voltadas para práticas pedagógicas:
1. A CASA QUE SÓ EU VEJO;
2. TEMAS DE ESTIMAÇÃO;
3. CORES, PLANOS E ÂNGULOS;
4. CENÁRIO, PERSONAGEM, AÇÃO.
Este ateliê, por ora, não realizou encontros presenciais e saídas fotográficas em espaços urbanos. Para exercitar o olhar fotográfico toda produção aconteceu em casa. Artigos, conteúdos e fotos foram postados a cada 15 dias em pastas do Google Drive, criando um memorial da formação. Nos encontros online compartilharam experiências fotográficas e leituras sobre poética da casa e documentação pedagógica.
A proposta foi olhar para as situações do cotidiano e “enxergar algo ordinário com olhos extraordinarios” (citando Loris Malaguzzi); fotografar dentro da casa: culinária e jardinagem, artes e tintas, brincadeiras e jogos, cantos e janelas, linhas e formas da arquitetura de morar, repetições das ações cotidianas.
A casa como significado
A casa como lugar de curiosidades
A intenção foi provocar o olhar do adulto para a casa como lugar de curiosidades. E quando criança, como enxergávamos os cantos da casa movidos pela curiosidade? Como os espaços da casa eram vividos? Como montávamos cabanas nos vazios debaixo da escada, o esconderijo por detrás das cortinas, e dirigíamos os sofás como carros velozes?
Ao fazermos esse exercício de reflexão sobre passado e presente, dessa forma, entendemos melhor a criança que se encanta, percebe e elabora o mundo, o tempo e o espaço a sua volta. E agora, quando adultos, como lidamos com nossos deslumbramentos e nossas invenções?
A casa em tempo de recolhimento
A casa é uma palavra, mas também é uma ideia, um conceito único e particular para cada um de nós, muito carregado de universalidade. Que palavra bonita essa – casa – que nos convida à observação, ao tempo estendido e desacelerado. Olhar mais devagar para observar melhor.
Não por acaso, esse tempo foi potencializado pelo distanciamento social. Todos tiveram então esse convite do destino de poder parar e compreender o que há de simbólico nos laços, entremeios, cantos e sentimentos da casa que revelam de maneira diferente em intensidades, sutilezas e particularidades.
Nos exercícios do Ateliê de Fotografia pudemos ter pistas e vivenciar o encontro da casa com o nosso espaço íntimo, encontrar elos afetivos entre pessoa e lugar. Nesse momento em que os adultos e as crianças estão em casa, nada mais apropriado do que fazer uso da nossa “câmera interna” e explorar espaços, tempos e objetos cotidianos. Houve uma diversidade de possibilidades para as explorações fotográficas no âmbito doméstico.
A casa como ateliê
A casa é um grande ateliê. As possibilidades são infinitas: das texturas das colchas às janelas abertas para fora, dos espaços dos cômodos às frestas das portas, dos móveis aos pequenos objetos de decoração, da manipulação dos alimentos aos reflexos dos espelhos, das luzes às sombras do inverno.
Enxergar a casa como ateliê resgatou a atenção sobre a casa e nos levou de volta à casa da infância. Como estamos agora mais tempo nela, chegamos mais perto para observar e fotografar. Foi um reencontro com certas memórias.
Como foi a programação do curso?
SENSIBILIZAÇÃO PRÉVIA (uma semana antes do ateliê)
– Leitura de artigos e acompanhamento de vídeos
– Execução e construção do exercício 1
EXERCÍCIO 1 – A CASA QUE SÓ EU VEJO
– Levantamento de repertório e expectativas a partir da 1ª observação sobre a casa
– Tempo da infância, tempo da escola, tempo da fotografia para as documentações
EXERCÍCIO 2 – TEMAS DE ESTIMAÇÃO
– Diferenças entre narrativas temáticas e narrativas cronológicas
– A tomada de decisões fotográficas como experiência estética e pedagógica
EXERCÍCIO 3 – CORES, PLANOS E ÂNGULOS
– Composição de imagem: recorte, figura e fundo, pontos de vista, luz.
– O celular como caderno de anotações: como ‘gastar a cena’ e não perder o foco
EXERCÍCIO 4 – CENÁRIO, PERSONAGEM, AÇÃO
– Compartilhamento e comparação entre as primeiras e últimas narrativas
– Transcendência das experiências fotográficas para a relação com as crianças
Dados Gerais
Carga Horária Online: 10 horas divididas em 4 encontros de 2h30, na plataforma de vídeo online