Quem são as crianças?

De acordo com Organização Mundial da Saúde, a infância é o período etário dos seres humanos compreendido entre 0 e 12 anos. Pois muito bem, este parece ser apenas um jogo de números a contemplar uma regra.

Entretanto, tanto pais como a esmagadora maioria de educadores, como nós, que vivemos intensamente as infâncias que estão sob nossos cuidados, sabemos que esta não é a maneira mais adequada para tratar um tema de tamanha relevância. 

Existe uma complexidade nas infâncias e em suas particularidades que ultrapassam nossa capacidade de classificação de forma geral. Apenas uma aproximação individualizada com cada criança poderá nos entregar uma pequena possibilidade de mensuração.

A criança e o brincar

Caso exista uma boa régua que possibilite a observação mais detalhada da infância, possivelmente o “brincar” seja esta ferramenta. Existe uma relação íntima entre a infância e as brincadeiras de tal forma que, quando uma criança brinca, ela se envolve em um manto que, ao contrário de encobri-la, faz dela um ser transparente e permite uma observação mais profunda de sua existência.

Brincar é a expressão máxima da infância e esta condição se aprimora na medida em que o brincar é livre e autônomo. A partir da construção de suas brincadeiras surgem suas narrativas verbais ou mentais, para pleno exercício de suas habilidades imaginativas.

Mas ainda assim as classificações etárias podem nos conduzir a equívocos pontuais. Não podemos deixar de considerar que existem particularidades em cada ser. Todos conhecemos, por exemplo, crianças com 10 ou 12 anos de idade e cuja forma de brincar ainda se adequa às faixas anteriores, sem que isso seja sinal de qualquer atraso cognitivo.

Da mesma forma em movimento oposto, existem crianças de faixa etária menor, já com as percepções e as nuances do brincar mais próximas das crianças mais velhas. E como podemos nos apropriar das ferramentas adequadas a uma classificação mais acertada?  

O relógio das infâncias

Que fácil seria se houvesse uma uniformidade das características infantis de forma a nos habilitar uma espécie de relógio etário capaz de promover todas as respostas que nos surgem a partir desta questão.

Pois bem. Não há. Inobstante, uma das formas de aproximação com os temas que envolvem esta complexa matéria é fazer deste estudo algo multidisciplinar. Unir a antropologia, a pedagogia, a psicopedagogia, a sociologia, a psicologia, a biologia, a neurociência, a música, as artes e o legítimo interesse nas infâncias.

Ainda que estejamos certos da impossibilidade de desvendar, classificar ou rotular a criança, aprofundar nossos conhecimentos a partir das várias visões e concepções de infância, sob os mais diversos pontos de vista, pode contribuir de forma muito vigorosa em nossas atribuições, sejam no âmbito familiar ou escolar.

Olhares para as crianças e seus tempos!

Este é o título do livro que compõe o kit do mês de julho de 2022, do clube de assinatura para professores DIÁLOGOS EMBALADOS. Uma obra que reúne grandes pensadores e pesquisadores das infâncias e suas visões acadêmicas e vivenciais.

O livro traz como organizadoras: – ADRIANA FRIEDMANN – Doutora em Antropologia pela PUC-SP, Mestre em Educação pela UNICAMP e pedagoga pela USP.
– LUIZA LAMEIRÃO – Pedagoga pela USP, professora de ensino infantil e fundamental no âmbito Waldorf.
– PAULA CRISTINA S. HADDAD LEVY – Mestre em Educação pela USP, especialização em Primeiríssima Infância pelo Instituto Singularidades, pedagoga pela USP.
– SANDRA ECKSCHMIDT – Doutora em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina.
– VANDA ELISA FARIAS – Pedagoga, psicopedagoga e professora Waldorf há 33 anos.

Com as maravilhosas ilustrações de Cecília Tilkian, o livro faz um profundo passeio sobre as frestas médicas, pedagógicas, psicopedagógicas, neurocientíficas, com textos, além das organizadoras, de nomes como: RENATA MEIRELLES, ARTHUR IRAÇU AMARAL FUSCALDO, ELVIRA SOUZA LIMA, BRUNO CALLEGARO, REGINA SALVETTI, MARIA APARECIDA GUEES MONÇÃO, CISELE ORTIZ, RAQUEL FRANZIM, entre outros, além de uma interessantíssima entrevista com SILVANA AUGUSTO.

Uma rica coletânea de diferentes visões, todas desejosas de ver com profundidade a infância, unidos numa única obra e destinados a ampliar nossos olhares, não para que as respostas sejam únicas, mas para que os questionamentos sejam múltiplos.

Só com os nossos olhos e mentes abertos, e com a entrega de todo nosso respeito à infância em nossas formas de conduzir, abrindo mão do protagonismo em favor das crianças, é que será possível nos aproximarmos de suas importâncias.

Uma educação de qualidade passa, necessariamente, pelo aproveitamento máximo das potencialidades e do reconhecimento inequívoco de que não somos os construtores das infâncias. Cada criança trás em si já edificada a sua infância peculiar, única e exclusiva, e nosso esforço deve focar sua manutenção, não sua transformação ou alteração.

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