Observe isso! O título do artigo traz em si duas forças grandiosas que merecem sempre nossa reflexão. Por um lado a “Documentação Pedagógica”, que tanto provoca suspiros naqueles que já conhecem bem sua concepção e dela faz bom uso, e arrepios aos que ainda não se aproximaram ou não absorveram por completo sua complexidade. Por outro lado a “Formação do Professor”, a importância de sua continuidade e as ferramentas disponíveis para isso.
Pois muito bem. Se você está lendo este texto muito possivelmente já sabe da necessidade de formação contínua dos educadores e da importância de uma boa documentação pedagógica.
Afinal, o que é documentação pedagógica?
Documentação pedagógica é o acervo de registros das ações cotidianas capaz de comunicar o nascimento do elo entre o ensino e aprendizagem. Ele pode ser reunido e organizado das mais diversas formas disponíveis e nele também podem e devem ser inseridas todas as formas possíveis de registro.
Ou seja, tudo aquilo que comunica ao mundo os aprendizados de cada criança, a forma como isso ocorreu, a partir de quais elementos, quais os questionamentos que isso provoca e quais as reflexões/observações que podem ser feitas a partir dele pode compor sua documentação pedagógica.
Muito provavelmente a documentação pedagógica será uma das ferramentas mais importantes para a educação, quaisquer que sejam suas opções filosóficas. A partir dela é possível extrair uma enormidade de informações:- Sobre a criança de forma individual,
– Suas relações com o coletivo,
– Suas relações com os objetos,
– Suas relações com a natureza e consigo mesma,
– Sobre os materiais disponibilizados (ou sobre os que poderíamos ter disponibilizado),
– Sobre os processos educativos,
– Sobre intencionalidade,
– Sobre a forma de aprender,
– Etc..
Mas acredite, existe muito mais sobre o assunto que precisamos conhecer. Sua relevância está descrita pelos maiores nomes mundiais da educação e é tema de uma infinidade de livros que trazem muitas e importantes reflexões.
Como podem acontecer os registros em sala de aula?
O que um dia foi apenas um diário de classe, onde os educadores registravam em escrita suas ações e o reflexo delas nos educandos passou, ao longo dos anos, por um enriquecimento bastante significativo com as ferramentas tecnológicas que, com o passar do tempo, foram sendo desenvolvidas e gradativamente vistas e compreendidas como úteis e inseridas como parte do processo de construção da documentação pedagógica.
A forma com que os registros podem acontecer está muito intimamente ligada à que educador desejamos ser. Quanto mais questionador e observador, maior seu grau de identificação daquilo que mereça registro e, consequentemente, possa fazer parte de sua documentação.
Vale lembrar que todas as formas de registro, desde que fundamentadas, tem seu valor na composição da documentação pedagógica e podem ser utilizadas. Entretanto, sua importância está muito menos na forma, mas em seu conteúdo.
Lembramos também que toda documentação pedagógica é registro, mas nem todo registro é documentação pedagógica.
Não basta que seja a mais bela foto do rosto sorridente da criança, nem o mais belo relato descrevendo os fatos ocorridos no dia, nem a produção cinematográfica das instalações da escola habitada pelas crianças. É preciso que ele comunique algo relevante sobre o binômio ensino/aprendizagem, é necessário que ele possa dar notícias do indivíduo, do coletivo, do lugar, do espaço e da materialidade. E, em especial, das relações estabelecidas entre a criança e o seu entorno.
O registro precisa conter elementos que, quando reunidos a outros registros, possam contar uma história cotidiana real de construção de relações entre os seres, os seres e os objetos, os seres e seu meio ambiente. Intencionalidade.
Sendo assim, o que vai fazer com que sua fotografia, o seu diário, suas gravações de áudio, seus portfólios e relatórios sejam realmente um registro? Dê a eles esta alma pedagógica para que deixem de ser apenas um corpo e ganhem vida.
A documentação pedagógica como fonte de reflexão de processos e aprendizagens
A partir deste conceito de registro e documentação pedagógica, e do muito mais que se pode aprofundar sobre o tema, é importante observarmos os conceitos. . Como podemos ampliar o olhar com base no significativo deles?
Quais as perguntas que podem surgir a partir da construção, observação e reflexão de nossos registros e de nossa documentação pedagógica? E mais, quais as respostas que eles podem nos sugerir?
Tanto na elaboração de nossa concepção de infância e do aproveitamento de suas características naturais, do brincar, da liberdade, da curiosidade e da criatividade, das potências reveladas e das aptidões originais dos seres, de nossas observações sobre a riqueza do aproveitamento de suas importâncias, quanto na nossa própria identidade como educador.
Conhecer nossos saberes e a forma como os entregamos. Processos. Pensar os registros e a documentação como uma forma de comunicação com o mundo, revelando os de sua produção e visitando os de outros educadores para promover uma troca de experiências capaz de formar uma teia de conhecimentos compartilhados.
Há sempre algo a ser absorvido a partir deste rico material, porque ele carrega muitos inéditos: cada criança é um ser recém chegado ao mundo e exclusivo e, portanto, traz o seu olhar único e sua forma peculiar de manifestação; cada educador, da mesma forma, é constituído da criança inédita que habita em si e das vivências únicas que reuniu durante seu processo de construção.
A história do mundo e da espécie humana também pode ser contada a partir da soma dos registros das documentações reunidas durante a história. A construção da sociedade, seus costumes, sua cultura local, suas vidas.
Conte pra gente uma história de sua vida a partir do contato com seus registros e sua documentação pedagógica. Ela te transformou?