Os primeiros movimentos para o ano letivo que se inicia já estão acontecendo. Alguns ajustes nos espaços, a limpeza em dia, novos materiais estão chegando, últimas pinceladas da nova pintura, matrículas abertas!

O corpo docente está formado. Jovens professoras recém-formadas, outras já com alguma experiência e algumas já acumulam as vivências de muitos anos. Enquanto se reúnem para a organização do início das aulas, algumas crianças ainda estão entregues aos deleites de suas férias, agora em reta final.

Mas o que fazer com o que já temos?   

Sobre jalecos e vivências

Uma coisa há de ser dita: os educadores não são trabalhadores de uma linha de produção onde cada produto,  quando pronto, precisa apresentar as mesmas características físicas e a mesma funcionalidade. Pense nisso.

Por nossas mãos passam a mais rica e diversa modalidade de matéria prima: a infância. Em cada criança encontramos uma riqueza ímpar, singular e que carrega em si as infindáveis possibilidades. Cada qual com suas potências, seus saberes anteriores, seus ritmos e seus desejos.

Assim, é certo que não existe um molde, uma matriz ou um “manual de instruções” que sejam capazes de nos guiar em nossas ações cotidianas. Se não existem crianças iguais, não existem educadores prontos.

Assim como em nossos velhos jalecos, nossos uniformes de trabalho e em nossos corpos, nós educadores carregamos as marcas de nossas experiências, de nossos encontros, de nossas leituras. Traga-os consigo. 

Sobre registros e documentação pedagógica

Você se lembra de quantas vezes falamos sobre os registros pedagógicos, a importância de uma documentação bem realizada, dos diários de bordo, dos mapas, das cartografias, dos portfólios

Muito daquilo que registramos diz sobre cada criança e cada projeto. Mas ele também possibilita uma análise muito interessante daquilo que somos  (ou que fomos) como educadores. 

Faça passeios rotineiros por seus registros, todos eles. Quem sabe haja em seus diários pessoais algo que mereça ser relembrado. Tanto as alegrias de uma conquista importante quanto as angústias de uma ação não muito bem sucedida. 

Seus registros são parte de sua composição como educador. Traga-os consigo. 

Sobre livros e formações

Quantos encontros participamos presencialmente ou virtualmente nestes últimos tempos? Quantos livros lemos? Tanta gente estudiosa e sabida entregou seus conhecimentos e suas experiências em forma de palavras escritas e faladas? 

Educar não pode ser um ato solitário. Ao contrário: ele precisa se conjugar no gerúndio e em coletivo. Estamos sempre crescendo, aprendendo, renovando, inovando. Vivendo a educação de forma conjunta e compartilhar nossos saberes é uma forma de declarar nosso amor à esta educação.

Visite também sua biblioteca pessoal, suas anotações dos encontros, suas gravações e todo seu acervo pessoal. Traga-os consigo.

Sobre dores e amores

Quando falamos de educação, falamos de crianças, de humanidade e de relações. Nossa missão tão nobre transita pelas mais importantes estradas da vida: colher e espalhar conhecimento e saberes entre todos. Formar a nós mesmos para formar nossos semelhantes e, por consequência, transformar o mundo em um lugar melhor para todos.

E não há como nos dividirmos em duas partes: nossa porção educadora e nossa porção humana são indivisíveis e caminham juntas e de mãos dadas. Entre nossas dores e nossos amores está nossa missão de vida. Educar.

Para cada dor que nos abala e nos remove parte do que construímos, um amor é capaz de nos reedificar de forma mais sólida e estável. Assim, vamos nos estruturando e reestruturando em pessoas melhores a cada dia. Traga esta pessoa melhor consigo. 

No mais…

No mais, traga suas  energias de afeto e desejos. Traga sua esperança na construção de uma sociedade mais humana, digna e respeitosa. Traga a saudosa professora de sua infância e as boas marcas que ela imprimiu em você.

Traga sua criatividade e sua capacidade de inovação que podem transformar seus dias em alegrias inéditas. Traga seu sorriso e seu colo pronto para acolher os temores da infância e as incertezas dos pais.

E que dentro dos velhos jalecos e uniformes, de toda a experiência construída por seus registros, por suas formações, seus livros, suas dores e seus amores, exista uma educadora disposta e pronta para contribuir na construção de uma educação melhor para todos.

Traga sua melhor versão.