Fechando os olhos, lembro-me do momento em que decidi viajar para Argentina com minhas colegas de trabalho. A partir daí, comecei a preparar a minha bagagem, pesquisei a cultura do país, clima e principalmente o colégio Alethéia. Afinal, estava indo estudar e precisava ter definido o que realmente gostaria de saber e de que forma isso acrescentaria em minha prática em minha vida.
Pois bem! Em meio a portfólio, festa junina e a pressão de amigos e família para que ficasse devido à Gripe A, insisti juntamente com minhas colegas e descobri que somos guerreiras, amamos o que fazemos e queremos fazer da melhor maneira.
Chegou o dia tão esperado! Quando pisquei, estava dentro do avião, de máscara, antisséptico e com muita fé de que traria na mala conhecimento, reflexão e saúde.
Enfim, chegamos à Argentina e sem perceber o nosso intercâmbio de experiências acabara de começar. Entender o idioma e ser compreendido, conhecer lugares diferentes que apresentaram o povo argentino dizendo o que realmente gostam, fazem e como fazem, apreciar sua música e vê-los dançar tango na rua.
Primeiro dia de curso:
Fomos recebidas pela dona do colégio, após começamos a trabalhar. Vitória nos contou como a família é parte principal neste trabalho, se envolve, contribui e acredita.
Pela tarde conhecemos o colégio em funcionamento, que delícia! Crianças sorrindo, cantando, sendo felizes.
No dia seguinte pude compartilhar com as “mestras” um dia de aula. Claro! Crianças são crianças em qualquer país ou circunstâncias; há conflitos, brincadeiras compartilhadas e não compartilhadas, descobertas, choro e riso. Mas, certamente está visível que podem experimentar, serem autônomas sem que os adultos digam que ainda não são capazes por serem crianças, sendo preciso que tudo lhes seja entregue nas mãos.
Vi nos seus olhos a felicidade de poderem compartilhar com o adulto sua autonomia desenvolvida dentro e fora do espaço escolar. São duas professoras em sala, percebi que as mesmas são cúmplices no trabalho que fazem. Enquanto uma registra, a outra acompanha a atividade e quando termina o momento dessa atividade, faz-se uma roda perguntando o que descobriram (jeito novo de brincar, materiais de que gostaram ou não de manusear etc…), para assim pensar nas próximas atividades.
Em todos os momentos as professoras estão preocupadas com o interesse das crianças e não com o que os adultos querem que as crianças sejam, é respeitada a cultura de cada um, a pedagogia da escuta norteia este trabalho.
Após o lanche das crianças, estive com alunos de 2 anos e percebi a mesma autonomia, concentração e participação na aula de inglês, fiquei fascinada!
No dia seguinte, as crianças não estavam, mas foram apresentados vídeo-clipes e um deles me chamou muita atenção.
Em uma situação de cantos do grupo 4, uma menina se encantou com uma máquina fotográfica; deste momento surgiu um projeto no qual apenas as crianças que apresentaram mais interesse pelo objeto foram a um passeio onde encontraram em um baú organizado pelas professoras máquinas fotográficas analógicas e digitais.
Tiveram como desfio colocar filme na máquina de acordo com o que já haviam presenciado e o fizeram com primor. Saíram com suas máquinas em mãos e sacaram suas fotos que viraram exposição e cartões postais. Quantos ganhos tiveram; utilizar o objeto com cuidado, agora, tornou-se significativo para eles, mostrar aos adultos quais são seus interesses e ainda trocar experiências com os amigos que não apresentam tanto interesse sobre o assunto.
Foi organizado para nós educadoras um espaço onde pudemos brincar como crianças com a luz e a sombra, e como é curioso até para nós adultos de onde vem a luz dos materiais utilizados que refletem cores e parecem movimentar. As crianças começam através de experimentos a perceber o dia e a noite, o quente e o frio, a importância da luz natural e artificial.
Sabe, voltei com a minha bagagem cheia de expectativa e acredito que as nossas crianças também têm muitas coisas a nos ensinar e mostrar. Crianças têm o direito de serem felizes, e nós adultos temos o dever de ajudá-las sem podar suas descobertas, permitir que sejam autônomas e conscientes, sem torná-las miniaturas de nós.
* Texto originalmente escrito em julho de 2009