Você já observou qual é o método usado para marcar seus livros? Muito possivelmente sim.

O livro é um dos objetos mais complexos da produção humana. Desde a sua concepção inicial, onde o autor vislumbra apenas internamente a possibilidade de sua escrita, até a última etapa de sua produção nas indústrias gráficas, ele passa por uma infinidade de fases.

É um processo longo e cuidadoso até que uma simples ideia inicial se transforme num produto final, pronto para ser adquirido e consumido. Mas sua perenidade se consome no momento em que o leitor passa a interagir diretamente com ele, desde o primeiro toque de suas mãos a observar sua textura, passando por experimentar seu aroma (e quem não ama aquele cheiro de “livro novo”), até que nos entreguemos a ele com nossa leitura.

Mas, definitivamente, isso não é tudo.

Quando iniciamos a leitura de um livro, ele passa a deixar em nós suas marcas. Seja qual for a sua abordagem, seu conteúdo vai sendo agregado ao nosso intelecto de forma a construir e sedimentar nosso pensamento e nossa percepção de mundo. Ele passa a nos compor como pessoas, como seres humanos, como profissionais. Seja entretendo ou agregando valores aos conhecimentos, eles passam a viver em nós, e nos marcam quando estimulam nossas reflexões a partir de suas mensagens.

Desta forma, assim como nas relações de amor que nascem também no primeiro toque, no estímulo das outras sensações, no convívio, na descoberta das profundidades e no respeito, acabamos por nos fundir com nossos livros, passear com eles, dormir com eles e estabelecemos uma relação duradoura de troca de experiências, conhecimentos, aprendizados. Uma legítima relação de afeto.

É a partir daquilo que os livros nos deixam marcas, que passamos a desejar marcá-los também. Como uma forma de dizer a eles: “eu estou ouvindo você”, “entendi o que você disse”, “eu estou aqui com você”, ou mesmo “não, não concordo com você”. É uma forma de dialogar com quem amamos. Interação.

Como todos os amores são inéditos, cada um de nós tem sua própria maneira de amar e de se comunicar. Esta comunicação com nossos livros se dá das mais diversas formas, dentre as quais destacamos algumas por aqui, para que você se identifique ao encontrar a sua, ou para que se apresentem como sugestão.

POST IT

Estes são aqueles pequenos recortes de papel adesivados em uma de suas extremidades, que se apresentam em diversas cores e formatos. Sua utilização nos livros é bastante interessante, porque tanto podem ser usados ao longo do texto para demarcação de palavras ou trechos, como podem ser usados na borda da página, facilitando a busca pelo tema, mesmo com o livro fechado.

Neles também podemos abrigar nossos comentários, nossos pontos de exclamação ou interrogação. 

Destaque para o fato de poderem ser removidos, sem dano físico ou estético ao livro.

CANETA MARCA-TEXTO

Há também quem prefira se utilizar das canetas marca-texto. Semelhante às canetinhas coloridas, com uma ponta mais alongada, elas não apenas trazem a marcação desejada, mas proporcionam um contraste muito interessante entre as cores da folha, da letra e da própria caneta.

Além disso existe a facilidade de que, em apenas um movimento de traço, as palavras sejam destacadas como um todo, dando um efeito visual muito agradável e de fácil localização.

MARCA-PÁGINAS

Possivelmente o mais tradicional método de marcação, e certamente o de menor alcance. Ainda que confeccionados nas mais diversas formas e materiais, ou ainda escolhidos pelo próprio leitor (como folhas de árvore, cédulas de dinheiro, retalhos de tecidos, etc.), eles acabam marcando apenas a página como um todo.

Mas ainda assim, são absolutamente necessários para os livros mais volumosos, quando somos obrigados a ler entremeando pausas.

LÁPIS OU CANETA COMUNS

Já outros leitores não se importam em marcar seus livros circundando à lápis ou caneta aqueles trechos que despertam maiores sensações. Os usuários deste método também podem fazer suas observações em qualquer lugar. Seja um espaço em branco no rodapé da página, ou mesmo um intervalo maior entre parágrafos, nas bordas laterais. Todo espaço livre se torna campo de registro para os adeptos desta modalidade.

Possivelmente seja o método de maior liberdade ao leitor. Mas entre os puristas, pode encontrar alguma rejeição, já que “consome” o livro.

DOBRADURAS

Também podemos marcar nossos livros a partir de dobraduras feitas em suas próprias páginas. São as conhecidas “orelhas” que encontramos em muitos livros. Elas não nascem apenas das mochilas das crianças, sempre cheias e sacodidas em tempo integral.

Muitos de nós também as usamos em nossas marcações de livros. Uns utilizando pequenas dobras nos cantos inferiores ou superiores da página, outros fazendo dobras maiores, ou mesmo duas delas na mesma página, de forma ser visível o relevo, mesmo com o livro em descanso.

Mas de toda forma, as marcações em nossos livros desvendam uma troca. Quem marca um livro declara a ele que também foi marcado. Não importa o modelo preferido, as cores utilizadas, os objetos escolhidos. 

Ainda quando lemos um livro marcado por outra pessoa, um outro valor se agrega. Podemos conhecer o livro e podemos conhecer as marcas que ele fez no outro. Um estímulo a mais para reconhecermos nossas próprias marcas e estampar nossas próprias marcações.

Fica aqui o convite. Visite seus velhos livros. Reveja suas marcas e se reaproxime das marcas que ele imprimiu em você e nos conte. Quem é você, qual o livro e como vocês se marcaram. 

Topa?