As queixas de falta de tempo são uma característica da contemporaneidade. Quem nunca se sentiu dessa forma? Pesquisas apontam que o número pessoas que passam por transtornos relacionados à ansiedade mais que dobrou nos últimos quatro anos. Cada vez mais, a chamada ‘falta de tempo’ faz com que as pessoas desejem seu cotidiano de forma mais acelerada. Ficar impaciente no trânsito, esperar alguns minutos a mais para ser atendido, não ser respondido prontamente. Tudo isso soa muito familiar hoje em dia.

No entanto, movimentos inversos têm surgido em muitos lugares. Aquele que valoriza o tempo, a observação e seus processos. Um deles é da educadora Shari Tishman, que desenvolveu o conceito de “slow looking”, ou “olhar atento”. Seu livro Slow Looking: The Art and Practice of Learning Through Observation, chega em português através da Diálogos Embalados, no Clube de Livros para Formação de Professores. Traduzido para o português como: Olhar atento: como incentivar os alunos a aprender por meio da observação.

Segundo ela, sua jornada não é solitária. Uma apreciação pela atenção e valorização do também permeia a cultura contemporânea. Em 1986, o jornalista italiano Carlos Petrini liderou uma manifestação na Escadaria Espanhola, em Roma, contra a inauguração planejada de um restaurante do McDonald’s no local. Esse episódio foi o ponto de partida do movimento “slow food”, que preconiza o valor dos alimentos locais, da produção sustentável e do prazer lento à mesa. Desde então, essa filosofia se espalhou, refletindo um crescente apetite por uma abordagem mais contemplativa na cultura contemporânea.

Entre os sinais desse movimento estão eventos como o “slow art day“, uma iniciativa que ocorre anualmente em museus ao redor do mundo, convidando os participantes a dedicarem tempo a contemplar 4 ou 5 obras de arte e, em seguida, a compartilhar suas percepções em um momento de refeição com amigos. Além disso, há o movimento de uma educação que valorize o tempo, que rejeita o ensino padronizado em favor de uma abordagem que traz a profundidade de aprendizado e a interação significativa entre educadores e estudantes. Não podemos esquecer também dos efeitos no jornalismo, adotado por um número crescente de profissionais da imprensa, que optam por investigar e relatar histórias com cuidado e atenção, em contraponto à demanda por notícias instantâneas.

Segundo Shari Tishman, essas manifestações refletem uma mudança de paradigma em direção a uma cultura que valoriza o tempo, a contemplação e a qualidade sobre a rapidez e a eficiência superficial. Elas nos convidam a repensar não apenas nossos hábitos alimentares, educacionais e informativos, mas também nossa relação com o mundo ao nosso redor. Trata-se de uma busca por uma vida mais significativa e autêntica, onde a pressa cede lugar à contemplação, e a profundidade substitui a superficialidade.

O livro Olhar atento: como incentivar os alunos a aprender por meio da observação apresenta um argumento sólido sobre a importância do olhar atento em diversos ambientes de aprendizagem, sejam eles gerais ou especializados, formais ou informais, e sua conexão com os conceitos-chave de ensino, aprendizagem e conhecimento. Originada em museus, essa prática, cada vez mais reconhecida pelos seus amplos benefícios educacionais, sustenta que a atenção paciente e imersiva ao conteúdo pode gerar oportunidades cognitivas ativas, propiciando a construção de significados e o desenvolvimento do pensamento crítico que podem ser dificilmente alcançados por meio de métodos de entrega de informações em alta velocidade.

Explorando as diversas aplicações multidisciplinares dessa abordagem intencional, o livro utiliza exemplos das artes visuais, da literatura, da ciência e do cotidiano, recorrendo a cenários autênticos do mundo real para ilustrar as complexidades e recompensas do olhar atento.

Valorizemos a pausa, o diálogo, a conexão profunda entre as pessoas e os elementos que estão ao nosso redor.

Te convidamos a se embalar conosco em maio!

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