Quem viaja para qualquer lugar não leva apenas consigo as malas e as expectativas de conhecer o novo. Carrega também suas vivências, experiências e visão de mundo. Da mesma forma, quem volta de uma viagem não traz apenas presentes e recordações, mas também possibilidades de transformações em diversos aspectos da vida. Vivemos em constante aprendizagem e o contato com o novo sempre é transformador. Como nos disse a Prof. Alice Proença, autora do livro “O Registro e a Documentação Pedagógica – entre o real e o ideal…. o possível”, nós, educadores, vamos buscando pistas nos exercícios da nossa própria experiência. “Assim, vamos buscando aquilo que nos faz sentido, que nos encanta, nos desafia, nos toca, afeta”.

Nessa busca de novas vivências, entre os dias 23 e 26 de março, a Diálogos esteve em Curitiba, um destino inédito nas viagens pedagógicas. O grupo visitou quatro espaços educativos: Colégio Umbrella, Escola Parlenda, Peixinho Dourado e Escola Aurora. “Cada um deles com suas características, vivendo diferentes etapas de transformação pedagógica, mas sem perder a identidade nem a história, buscando um novo olhar sobre a infância, onde as crianças possam ser protagonistas no processo de aprendizagem”, diz Telma Holanda, uma das gestoras da Diálogos. Nas visitas, o grupo não se deparou apenas com as práticas inovadoras, mas também pôde trazer para os espaços as suas próprias bagagens. “O próprio grupo tem visões e sensações diferentes nas instituições que visitam, já que cada um carrega consigo a sua própria história e experiência. A escola ideal para mim pode não ser para o outro. Isso enriquece os diálogos e as visitas, é uma experiência única”, explica Ana Paula Piti, gestora de Inovação e Curadoria Pedagógica da Diálogos. Essas reflexões e as mudanças na prática pedagógica são, para a coordenadora Ana Júlia Lucht Rodrigues, da escola Parlenda, atitudes que devem ser possíveis, pequenas e progressivas. “Trabalhar com os três ‘P’s é realizar mudanças possíveis dentro das nossas condições reais; pensar em algo pequeno, ou seja, dividir as mudanças em pequenas partes e fazer o processo progressivo, que possa crescer e se transformar ao longo do tempo no ideal”.

O novo pode estar logo ali

Walter Kohan, em seu livro “Uma viagem de sonhos impossíveis“, diz que o mais difícil de qualquer viagem é terminá-la, uma vez que, quando o deslocamento físico acaba, continuamos a viajar com o roteiro já concluído. “Quanto mais intensa a viagem, mas ela demora a terminar”, sendo, inclusive, pelas perguntas que causam. As viagens pedagógicas têm o objetivo de inspirar educadores em novas práticas educacionais, não de apresentar modelos que devem ser importados para outros lugares. Quando uma escola é criada, diversas questões estão em jogo: a cultura local, o público atendido, os profissionais, a visão de mundo dos fundadores. “Existem realidades que são muito diferentes da nossa. No entanto, entendemos que o processo educacional está em constante transformação. Quando visitamos escolas brasileiras, sabemos que é mais próximo, entendemos melhor o contexto e vemos as mudanças adotadas que transformam realidades”, explica Ana Paula Piti. Nas viagens educacionais, para além de visualizar as práticas e a rotina das instituições, os educadores compartilham suas experiências com o grupo. 

Em constante processo de experimentar

As mudanças necessárias para atender a esses novos paradigmas educacionais estão em pauta em todas as propostas da Diálogos. Todas as ações, eventos, mostras e indicações têm um mesmo norte: mostrar que nenhum indivíduo está pronto e que estamos em constante processo de evolução. Sabemos que a educação não se faz sozinha. Visitar escolas em outros contextos não parte da ideia de se ignorar toda a trajetória educacional dos que visitam, pelo contrário. É uma forma de somar as experiências dos visitantes com o que é inédito para eles, já que, para a escola, é impossível compreender o individual sem levar em consideração o que se passa no coletivo.  O livro do mês do Clube do Livro Diálogos Embalados, “Abordagens Participativas”, de Bruna Ribeiro, traz experiências distintas no mundo, mas que têm em comum a escuta, o diálogo, o cuidado, a participação e o protagonismo infantil. A mostra “O corpo é uma cidade de memórias”, que foi inaugurada na Casa Diálogos no dia 01 de abril e vai até o dia 31 de julho, traz as diversas possibilidades criativas do olhar da infância através do trabalho desenvolvido pela Escola Ateliê Carambola. Não deixe de nos visitar e conhecer de perto essas experiências que podem nos inspirar a educar de forma mais participativa.