Se você acredita que este tema não diz respeito a você, por favor, leia este artigo até o final.

A inclusão escolar nasce, em nosso ordenamento, no artigo 5º da Constituição Federal (para o Ensino Fundamental), e segue confirmado no artigo 205, ampliando o conceito ainda mais, para utilizar a expressão “educação”, de forma global.

Sendo assim, estamos a tratar de um DIREITO da pessoa humana, e uma OBRIGAÇÃO de todos nós, enquanto Estado, família ou individualmente. Este é o conceito geral da inclusão escolar. Mas e na ponta da linha, o que isso significa realmente? 

Escola para todo mundo

O conceito que mencionamos acima é o garantidor de que deve haver vaga nas escolas a fim de atender toda a demanda que se apresente, ou seja, nenhuma criança pode deixar de frequentá-la por insuficiência de vagas. Mas não se resume a isso. É importante tratarmos deste tema como forma de conscientização sobre outras modalidades de inclusão.

Incluir não significa abrir um pequeno espaço para alguns, mas abrir um grande espaço onde caibam todos. E também não se trata apenas de oportunidades de ensino, é preciso que sejamos capazes de incluir a todos em nossos planos, em nossos debates, em nossas vivências e efetivamente em nossas ações diárias.

Trata-se, ao fundo, de um exercício de reconhecimento da importância e da grandeza de cada ser humano, independente de qualquer tipo de classificação. Se existe apenas um motivo para observarmos diferenças, será para que aprendamos que elas não têm qualquer significância, se não a de nos atentar para os cuidados respeitosos. Antes de lutarmos por uma escola inclusiva, é necessário que sejamos pessoas inclusivas. 

Cuidando dos espaços e das pessoas

Nossas escolas (aqui incluídos os educadores, diretores, coordenadores e equipe de apoio), bem como as famílias e a sociedade como um todo, precisam estar abertas para acolher (em sentido amplo), aqueles seres humanos que necessitem algo diferente do convencional. Observe que o termo “diferente” precisa dizer respeito ao que podemos fazer, não a quem espera que façamos. Nós precisamos ser diferentes em nossas ofertas, em favor de quem a tem por direito.

Uma rampa de acesso diferente, uma abordagem corporal diferente, uma condução de construção de saberes diferente, para todas as crianças, que são todas iguais em seus anseios de aprendizagem e transformação.

A inclusão como forma de protagonismo, escuta e acolhimento

Todas as nossas discussões, estudos e aprofundamentos sobre a construção de uma escola que considere o protagonismo da criança como premissa, promovendo a necessária escuta que nos aproximará de suas competências, do aproveitamento de seus saberes próprios, tudo o que refletimos como formas de acolhimento (não apenas no início do ano letivo), não estarão completos se não estivermos abertos aos desafios de atender a “todos”.

Desde aquelas condições mais simples como as crianças mais ativas fisicamente, passando pelas restrições de mobilidade, alimentares, visuais ou olfativas, até as mais complexas como os transtornos e as síndromes, todos com sua infinidade de particularidades, cada um de nós precisa da consciência íntima de igualdade no acolhimento, na escuta e no cuidado.

Muito já se tem feito em favor da escola inclusiva, inclusive com exigências legais no cumprimento de algumas mudanças ou transformações espaciais, ou do preenchimento mínimo de vagas em favor desta inclusão. Isso é bom, mas não é o bastante. 

É necessária uma reforma em nossa forma de olhar a infância e o mundo. Há de chegar o tempo em que os seres humanos deixem de observar nossas diversidades com o olhar classificatório para atentarem-se exclusivamente às suas condutas cuidadoras. Porque quando propomos o olhar atento a cada criança, estamos reconhecendo suas individualidades. 

Acredite, construiremos uma escola melhor para todos quando entendermos definitivamente que entre nós, seres humanos, não existem “diferenças”, mas apenas “particularidades” que precisam nortear nossas ações. 

Nada diferente disso.