Onde encontrar nossos avós em nossa construção?

Como é prazerosa a lembrança que carregamos de nossos avós. Desembarcar em suas casas e correr para seus braços nos remete a uma sensação única de acolhimento, carinho e cuidado. Felizes os que carregam em si estes momentos.

Óbvio que em alguns casos a relação é um pouco mais esparsa por qualquer das imposições da vida, seja a física para os que residem em distâncias maiores, os que infelizmente guardam uma distância afetiva e os que já não têm mais suas presenças vivas.

Entretanto, em qualquer dos casos, existe muito da presença de nossos avós em nossas vidas, ainda que já estejamos vivenciando suas ausências. Mas como isso é possível? Onde estão nossos avós na construção do que somos? 

Um dos elos da corrente

Sempre quando nos referimos aos contextos, materiais e experiências de cunho pedagógico, elencamos dentre as suas importâncias a vivência de nossa ancestralidade, que nada mais é do que um contato com o conjunto de elementos de nossa história seja individualmente como pessoa, ou de forma mais global como família ou mesmo sociedade.

Nesta corrente que nos une à nossa própria história, em geral, os avós são o elo da porção mais distante que podemos tocar. Além de pertencer a eles o conhecimento integral da edificação da vida de nossos pais, porque presenciaram, vivenciaram e interagiram com suas infâncias, eles também vivenciaram, como crianças, a paternidade de seus pais (nossos bisavôs).

Faça esta conta em suas matemáticas e percebam que temos em nossos avós a experiência acumulada de mais de um século de história. Só este pequeno (mas grandioso) detalhe já seria suficiente a nos provocar a reflexão sobre a importância de nossos avós em nossas vidas. Mas não é só.   

A importância moderadora

Qual de nós ainda não sentiu algum desconforto por ter agido de forma exagerada em algum momento nas nossas relações com nossos filhos. Uma bronca mais dura, um castigo mais longo ou até mesmo uma atenção não entregue aos filhos quando necessária.

Quando exercemos as funções de pais naturalmente já carregamos em nós uma porção generosa de nossas experiências como filhos, tanto para aproveitarmos o melhor quanto para filtrarmos os erros de nossos pais. Absolutamente normal.

Mas em dado momento somos obrigados a atuar em situações que para nós ainda são inéditas e, desta forma, muitas vezes somos levados pelo impulso ou pelo improviso. Neste momento a participação serena e experiente dos avós é muito bem vinda.

É sempre bom encontrar o equilíbrio na sabedoria dos avós, seja para moderar a ação dos pais ou mesmo para acolher a turbulência das crianças diante de alguma ação nossa por vezes exagerada.   

Como é bom reencontrar-se com a segurança num abraço e num colo dos avós…

Formação das relações afetivas

Não apenas nas memórias do cheiro de bolo e café frescos, dos almoços de domingo em família e dos abraços repletos de amor, os avós participam de forma direta na tecelagem de nossas teias afetivas.

Com a soma dos fatores da ancestralidade, lembranças e vivências, somos todos marcados positivamente por nossos avós. Não só constatado pelos bons momentos vividos, mas comprovado cientificamente em estudos acadêmicos.

Em resumo, crianças que têm o privilégio de conviver com os avós são mais serenas, afetivas e concentradas. 

Segurança. Percebendo a estrutura familiar

A percepção de que os avós são uma base sólida para seus próprios pais (que em geral são nossos centros de modelos), entregam uma solidez estrutural nos laços familiares. Ou seja, se confiamos em nossos pais, imagine o quanto confiamos naqueles em que nossos pais confiam.

Não são raros os casos da participação direta dos avós nas decisões, quer pela entrega de suas sabedorias, de suas experiências e até mesmo de forma financeira. A criança percebe desde cedo que seus pais são um porto seguro construído às encostas de outro porto seguro. Seus avós É a força a soma dos elos da corrente.

A força da presença

Nossos primeiros contatos corporais, as primeiras trocas de fraldas, nossas festas de aniversário, os primeiros passeios de nossa infância, levar ou buscar na escola, nossos cuidadores originais, os mimos mais expressivos envoltos nos cuidados mais carinhosos.

Nossos avós estão presentes em nós de muitas maneiras e sob muitos aspectos. Até mesmo nosso contato com os sinais do tempo nos rostos e corpos, por vezes nossa primeira experiência de perda. 

De qualquer forma eles nunca se vão por completo. Sempre haverá de ter um lugar em nossas prateleiras onde uma fotografia nos entregue seus sorrisos maduros a afagar nossas recordações mais remotas. 

Ou sempre há um lugar em nossos corações onde vivam eternamente em nós, para habitar nossas lembranças felizes de abraços, beijos e macarronadas, que nos farão desejar em voz alta algumas palavras:

– “Benção Vó! Benção Vô!”