ALGUMAS PALAVRAS POÉTICAS NO COTIDIANO DA ESCOLA

Aprendi novas palavras

e tornei outras mais belas.

Drummond   

A PALAVRA pode nos fazer ver um outro mundo…

A PALAVRA pode nos fazer ler um outro mundo…

A PALAVRA pode nos fazer criar um outro mundo…

Acreditando na força da palavra viva, palavra poética, que faz criar e recriar o vivido, iniciei em meu trabalho como educadora uma forma de trazer, na prática pedagógica, textos poéticos para as variadas situações que vivenciamos no cotidiano da escola.

Na comunicação entre escola e família são comuns as chamadas circulares. Estas sempre me incomodaram pelo grau de formalidade, distanciamento, mesmice  e pelo quanto as palavras pareciam mortas. Assim, comecei a recriar as circulares para que, através de novas palavras, pudéssemos nos tornar mais próximos, menos formais e com mais vida nesta relação tão importante para o processo de educar. Ou seja, desejava que toda a comunicação escola-família pudesse também expressar a fundamentação filosófica da nossa prática pedagógica.

Durante todos estes anos em que tenho trabalhado mais diretamente com educação – desde 1996 – como  coordenadora pedagógica do Ensino Fundamental II, como assessora pedagógica e psicopedagógica, e como professora na graduação em Pedagogia, na pós-graduação em Psicopedagogia, no Ensino Fundamental I e II, e também como psicopedagoga e no trabalho com formação de professores, sempre introduzi, de alguma forma, textos poéticos que pudessem  alimentar o processo de ensinar e aprender que, para mim, está além das salas de aula.

Em um texto que fiz para trabalhar com os professores, em formação continuada, com o tema da importância da Palavra, escrevi:

Precisamos recuperar a palavra perdida,

resgatar das funduras marinhas as

palavras-conchas que vão anunciar novos sons…

som da música das palavras e também o som do silêncio.

Sabemos que há a palavra bem-dita e há a palavra mal-dita.

Nós educadores precisamos bem-dizer,

precisamos redescobrir a energia da palavra…

precisamos redescobrir a nossa palavra…

aquela que nos faz autores da nossa voz,

precisamos redescobrir a voz do outro; assim,

precisamos despertar a palavra, a voz, a autoria das nossas crianças e jovens.

Ivonne Bordelois nos fala sobre A Palavra Ameaçada (2007) nesse nosso tempo histórico, mas também nos fala de uma riqueza inesgotável no mundo das palavras.

A etimologia nos traz a biografia das palavras, traz seu sentido primeiro, e traz sua história. É importante buscarmos, o máximo que pudermos, essa trajetória, compreendermos suas raízes e também suas transformações.

Wesley de Morais, em Salutogênese e auto-cultivo (2006) nos lembra, citando Sayd: Medicina, vocábulo do latim clássico, vem do verbo arcaico medeor,  que significa simultaneamente mediarmedicar e meditar. Nas antigas tradições dos terapeutas, o médico tinha um papel de educador, assim como o educador era aquele que cuidava, que curava.

Que a nossa palavra, enquanto educadores, faça sentido, seja terapêutica e possa encantar alunos, pais e a nós mesmos.

Katia Tavares

(UMA PEDAGOGIA POÉTICA PARA AS CRIANÇAS)