Encontros e desencontros entre trabalho e prazer

É chegada a hora de desfazermos nossas malas, devolver ao fundo das gavetas nossos trajes de banho, descarregar nossas máquinas fotográficas. Apontar nossos lápis, rever nossas rotinas, separar nossas roupas e nossos materiais. É o fim das férias.

Para as crianças: separar livros e cadernos, conferir uniformes, acordar mais cedo, ajustar os horários, guardar brinquedos, e para alguns, fazer correndo aquela tarefa que não foi entregue ainda. É volta às aulas.

Desde sempre insistimos em manter esta tradição equivocada de que o fim das férias e a volta às aulas precisam estar associados, necessariamente, a um sentimento de desânimo, quase tristeza. 

Inúmeros pensadores, filósofos e palestrantes motivacionais já abordaram este assunto para entregar algum conforto a todos para o enfrentamento deste momento que delimita o tempo destinado ao descanso e ao lazer, do tempo de trabalhar e estudar. 

De Confúcio a Steve Jobs, quase todos defendem a ideia de que o amor àquilo que se determina a fazer como trabalho será o diferencial entre ser ou não ser feliz trabalhando. Não há duvidas de que encontrar prazer no trabalho é realmente muito estimulante.

Mas no campo prático, as rotinas que envolvem nossos dias “úteis” estão rodeadas de detalhes periféricos, ligados ao nosso trabalho apenas de forma indireta, que interferem significativamente em nossas sensações de alegria e prazer.

O trânsito cada vez mais intenso e desgastante, o transporte público com seus serviços sempre deficitários, salários nem sempre justos ou suficientes, além das situações imprevisíveis como um pneu furado, um salto do sapato quebrado.

Entretanto existem algumas formas de manutenção de nosso bem estar.

Tempos de respiro durante as rotinas

Por que é que as férias são tão desejadas? Porque elas, mesmo quando não destinadas às viagens ou passeios mais longos, nos entregam algum tempo de respiro em nosso trabalho, por mais prazeroso que ele seja.

Nosso corpo e nossa mente precisam destes intervalos de baixa intensidade com alguma regularidade. Basta lembrar que é recomendável um sono de aproximadamente 8 horas, todos os dias.

Mas isso não é suficiente para nos fazer sentir bem de forma integral e cada um de nós pode encontrar diferentes formas de oferecer micro respiros ao longo do dia, nas horas vagas ou finais de semana, da mesma forma, muito importantes. 

Vamos pensar em algumas dicas? 

As artes e o prazer

arte não tem como endereço apenas os artistas. O conceito de arte inclui também aqueles que a reconhecem e admiram. Em geral estão ligadas diretamente aos sentidos e às sensações e nos tocam de forma muito espontânea. Quem sabe, incluir em suas rotinas algumas destas:– Música: Cantar, dançar ou tocar um instrumento (e sem a obrigação da perfeição) é uma das formas de nos conduzir a um universo de sensações agradáveis. E caso você não tenha esta habilidade, escutar uma boa música (tendo o conceito de “boa” aquela que lhe agrade pessoalmente), tocar seus instrumentos, dançar, mesmo que sozinha, pode ser muito reconfortante.
– Pintura, desenho ou escultura: Da mesma forma, se você gosta de se ativar numa destas linguagens, sem a necessidade de julgamentos técnicos, sempre que possível se dedique a elas. Ou, se a apreciação já for suficiente, frequente as mostras de artistas, ou busque as muitas imagens disponíveis na internet.

– Ler ou escrever: Muito além dos relatórios, pareceres, listas ou atividades profissionais, aproximem-se da escrita como forma de arte. Um conto, uma crônica, um romance ou qualquer outra modalidade que lhe faça bem. Seja para ler ou para escrever.

Os cuidados com o corpo

Nós educadores sabemos muito bem da importância dos corpos no aprendizado, e isso não se resume às crianças. Nossos corpos também apresentam suas linguagens e, assim como devemos estar atentos às linguagens infantis, precisamos estar atentos às dos nossos próprios corpos.

Especialmente os educadores estão expostos de forma proporcional à intensidade dos corpos das crianças. Vamos ao chão com elas, nos esticamos e encurvamos nas atividades, estamos sempre atentos aos movimentos deles enquanto permanecemos preparados para registrar e construir nossa documentação. Tudo ao mesmo tempo.

Não é raro que nossos músculos e articulações nos apresentem suas linguagens: dores, desconfortos, exaustão… Quem nunca?!

– Alongue-se
– Medite
– Faça Yoga
– Alimente-se de forma saudável
– Hidrate-se

O mais importante em qualquer lista de sugestões, é que você conheça seu corpo e seus limites, encontre a melhor forma de minimizar os efeitos da fatiga e faça uso moderado, porém contínuo daquilo que lhe faz bem.

Para todo o resto…

Encontre a felicidade nas pequenas coisas da vida. Aqueça-se ao sol e refresque-se à sombra de uma árvore, caminhe descalço na terra ou na grama e conecte seu corpo à natureza, gaste mais tempo de atenção no cantar dos pássaros e no pôr do sol.

Abrace as pessoas que você gosta, sorria e fale com elas, e as ouça. Acaricie seu animal de estimação e, quando regar suas plantas, olhe e fale com elas também. Aprecie melhor os seus banhos e, se possível, cante e dance durante eles.

Visite e receba seus amigos para um café, uma prosa despretensiosa. Distribua sorrisos aos vizinhos, aos desconhecidos e aos inimigos. 

Assim, nossos cotidianos podem se tornar um aglomerado de bons momentos, e dissolvemos a linha abrupta que separa a volta às aulas das férias, e desta forma, estas não precisam mais ter fim.