Um limite geográfico ou uma possibilidade de ampliação?

A escolha é sua, minha, nossa.

Não precisamos aprofundar nossas pesquisas pelas milhares de escolas pelo Brasil para constatar uma realidade ainda muito presente nos espaços escolares espalhados por todo nosso território nacional.

Do ponto de vista da engenharia, as paredes têm função delimitadora de ambientes, dividindo o espaço total da construção em vários outros menores, além de contribuírem na sustentação da estrutura como um todo. Até aqui, nada de novo.

Ocorre que quando nos referimos às paredes das escolas, o assunto ganha outro “lugar” e é necessária uma reflexão mais profunda e alargada. O que fazer para dar graça e cor nestas paredes? Aqui sim, uma questão conceitual.

Escolhendo as personagens

Muito bem. Vamos escolher quais os personagens merecem estar estampados nos muros e paredes de nossas escolas. Quem sabe seja uma ideia utilizarmos a “Turma da Mônica”, afinal de contas são criações brasileiras e muito ligadas ao universo infantil.

Ou talvez seja melhor os personagens da “Disney”, porque tem mais penetração na mídia e consequentemente podem atrair mais os olhares infantis. Ou quem sabe os super-heróis da “Marvel”, que remetem a força e movimento.

Se você não sentiu incômodo algum nestas poucas sugestões mencionadas acima, temos um recado simples e importante a dar. A escolha das personagens pressupõe uma leitura rápida nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação infantil:

“Sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura.”

Aqui está o personagem que deve ser escolhido para ser reverenciado nas paredes e muros de sua escola: suas crianças

Arte e identidade

Certamente não é possível afirmar que não exista arte nas produções comerciais, entretanto é correto afirmar que as simples imagens de seus personagens aplicadas como decoração acabam por constituir apenas estereótipos, não entregando sentido.

Por outro lado, quando fazemos uso das produções de nossas próprias crianças, estamos ultrapassando a mera “decoração” dos ambientes, para trazer sentido e comunicar as ações propostas.

Uma das mais conceituadas artistas plásticas, a educadora “Stela Barbieri”, em sua obra: “INTERAÇÕES: ONDE ESTÁ A ARTE NA INFÂNCIA?”, traz sua reflexão sobre este tema: 

Povoar constantemente a escola com a produção das crianças é mostrar a vida da escola. Dessa forma, professores compartilham com a comunidade escolar o que está acontecendo com seu grupo.  

Observe que isto também diz respeito a uma questão muito importante. Devemos construir nossas escolas para as crianças ou com as crianças? A participação direta delas na identidade visual da escola consiste em mais um dos pilares do protagonismo a que têm direito.

E vai além, quando elas percebem a presença de suas produções, quer artística, quer didática, existe um estímulo às suas autoestimas, tanto para suas formações pessoais como para as coletivas.

Observando os trabalhos umas das outras elas são provocadas em suas criatividades e imaginação. Aos educadores a possibilidade de observação constante de suas propostas e acompanhamento das aprendizagens.

Mas merece atenção também a questão estética. Não vale sair colando tudo de qualquer jeito nas paredes. É preciso que haja um encontro harmonioso entre a arte, a comunicação e a estética, de forma que sejam capazes de atingir a todos os objetivos.

Quando as paredes e muros podem expandir

Agora sim. Se já estamos prontos a aprofundar este assunto então estamos aptos a compreender que paredes e muros não precisam necessariamente representar o limite de nossas salas ou de nossas escolas.

Eles podem representar a liberdade criativa de pensamento e arte, podem contribuir na formação do indivíduo e da sociedade, valorizar a infância e seus direitos, entregar sentido às ações propostas e, de quebra, comunicar tudo isso com alegria, cores e vida.

Todos os ambientes da casa vão se tornando mais vivos, ganhando aquela camada de espaço habitado, vivido, preenchido por memórias e experiências diversas.  (Stela Barbieri).

Que tal darmos uma olhada em nossas paredes? O que elas comunicam a você sobre seus cotidianos, suas propostas, e especialmente sobre suas crianças?

Afinal, elas são ou não nossos personagens principais?